Um Guia dos Doze Passos
Este panfleto contém a descrição de um método de se fazer os Doze Passos de Cocaína Anónimos. Para nos ajudar a trabalhar os Doze Passos, Cocaína Anónimos utiliza o texto intitulado Alcoólicos Anónimos, referido frequentemente como “o Big Book”. Ao estudarmos este texto, alguns de nós acham útil substituir a palavra “cocaína” por “álcool” e a palavra “usar” por “beber”, apesar de no processo, alguns de nós descobriram que somos alcoólicos assim como adictos.
Porque alguns dos nossos membros acreditam que existem outras maneiras de fazer os Doze Passos para além do método descrito no Big Book, sugerimos que o leitor procure orientação num padrinho, um membro de C.A. com experiência, ou no seu Poder Superior, para o ajudar sobre qual é o método certo a seguir. Este panfleto não é um substituto do uso de Big Book e de um padrinho. O seu propósito é explicar o programa doze passos do Big Book de Alcoólicos Anónimos, como se relaciona com a nossa adição.
Seguir os Doze Passos prepara-nos para ter o “despertar espiritual” ou a “experiência espiritual”. Estas frases referem-se às mudanças na nossa forma de pensar, atitudes e perspectiva que ocorrem depois de seguir os passos. Esta mudança liberta-nos da nossa adição.
Aplicar os passos na nossa vida diária permite-nos estabelecer e melhorar o nosso contacto consciente com Deus ou com o nosso Poder Superior. Muitos membros danossa irmandade acreditam que o melhor salva-vidas na prevenção da recaída passa pela aplicação consistente do Doze Passos.
Os recém-chegados muitas vezes perguntam, “Quando devo fazer os Passos?” o Big Book diz, “Alguns apanharão uma bebedeira (pedrada) no dia seguinte a tomarem essa decisão (não voltar a usar). A maioria, dentro de poucas semanas.” A escolha é, no fim de contas, do leitor deste panfleto, mas um entendimento profundo do Primeiro Passo pode criar a vontade necessária para seguir os outros onze passos.
PASSO UM: Admitimos que éramos impotentes perante a cocaína e todas as outras substâncias alteradoras da mente – que as nossas vidas se tinham tornado ingovernáveis.
A nossa impotência opera a três níveis: (1) Uma alergia física à cocaína, que torna praticamente impossível pararmos de usar cocaína depois de o termos começámos; (2) Uma obsessão mental, que torna impossível que nos mantenhamos sóbrios permanentemente por nossa conta; e (3) Uma doença espiritual, que nos separa da capacidade do nosso Poder Superior em nos tornar e manter sóbrios.
Muitos de nós assumimos que o Passo Um significava que não poderiamos ficar pedrados outra vez porque não conseguíamos lidar com o uso. De facto, significa que sem intervenção divina, somos incapazes de nos manter afastados do primeiro bafo, linha, ou o que quer que seja e que iremos voltar a usar, independentemente do quanto desejamos ficar sóbrios.
A segunda parte do Passo Um refere-se ao quão somos incapazes de gerir a nossa vida, mesmo quando estamos sóbrios. Um exemplo desta incapacidade é estar “inquieto, irritado e descontente”
O Passo Um é a base de todo o processo de Doze passos. Sem uma inteira compreensão do que este passo significa para nós pessoalmente, não podemos esperar fazer grandes progressos nos outros onze Passos. Para mais informação, estuda a experiencia de Dr. Bob. (Dr. Bob foi um dos co-fundadores de A.A.)
Duas perguntas úteis para decidir se somos verdadeiros adictos são, “Consigo parar permanentemente se e quando quiser?” e, “Consigo controlar a quantidade que uso depois de começar a usar?” Se a resposta for “Não” a qualquer das perguntas, de acordo com o livro de Alcoólicos Anónimos, somos provavelmente adictos.
Passo Dois: Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos nos poderia restituir a sanidade.
Quando compreendemos o Passo Um e estamos convencidos de que somos adictos, estamos preparados para o Passo Dois. Começar a acreditar na capacidade de um Poder Superior de nos restituir a sanidade não exige que acreditemos em Deus. Tudo o que precisamos é abrir a nossa mente a boa vontade em acreditar de que existe um poder superior a nós mesmos.
Quando compreendemos o Passo Um e estamos convencidos de que somos adictos, estamos preparados para o Passo Dois. Começar a acreditar na capacidade de um Poder Superior de nos restituir a sanidade não exige que acreditemos em Deus. Tudo o que precisamos é abrir a nossa mente a boa vontade em acreditar de que existe um poder superior a nós mesmos.
Muitos de nós vieram para Cocaína Anónimos sem qualquer religião ou experiência espiritual, mas aptos para começar a pensar no que o conceito de um Poder Superior poderia significar para nós. Muitos de nós usaram o grupo de C.A. como um Poder Superior até conseguirmos desenvolver um conceito próprio. Qualquer conceito, independentemente do quão inadequado nos possa parecer, é suficiente para começar o Passo Dois.
A insanidade referida no Passo Dois é a parte do nosso pensamento que nos permite convencer a nós próprios que podemos usar outra vez com sucesso. Uma vez que esta “obsessão mental” aparece, somos compelidos a usar outra e outra vez, independentemente das consequências que nós sabemos que se vão seguir. É este ciclo vicioso que nos ajuda a estar dispostos a acreditar que talvez um poder superior a nós mesmos nos possa restaurar a sanidade. Estando convencidos das “três
ideias pertinentes” leva-nos ao Passo Três.
Passo Três: Decidimos entregar a nossa vontade e a nossa vida ao cuidado de Deus, como O concebíamos.
No Passo Três, tomamos a decisão de entregar a nossa vontade e as nossas vidas ao cuidado do nosso conceito de Deus nesse momento. O primeiro requisito é estar convencido de que “uma vida baseada na vontade própria dificilmente pode resultar”. Esse texto ilustra o significado da vida baseada na vontade própria ao descrever o comportamento de um actor que quer dirigirtodo o espectáculo. Muitos de nós acham útil substituir pelosnossos nomes nesta passagem e perguntar a nós próprios honestamente se este cenário não parece similar á maneira que estávamos a levar as nossas vidas. O texto mais à frente sugere que este tipo de egocentrismo é “a origem dos nossos problemas”. Depois de compreender o que significa viver uma vida baseada na vontade própria e reconhecer a sua inutilidade, é nos pedido para fazer a “Oração do Terceiro Passo” (ou a sua equivalente) na página 53, antes de irmos para o Passo Quatro.
Passo Quatro: Fizemos, sem medo, um inventário moral minucioso de nós mesmos.
No Passo Quatro, examinamos os destroços que estão acumulados pelas nossas tentativas de dirigir o espectáculo e das coisas que nos estão a bloquear do nosso Poder Superior. Ao completar e analisar o nosso inventário, estamos prontos para ver como se descontrolaram os nossos instintos para dinheiro, sexo, poder e prestígio, à medida que tentávamos satisfaze-los uma forma egoísta e egocêntrica. O inventário envolve olhar para as pessoas que ressentimos, as coisas que tínhamos medo, e as pessoas que causamos danos pela nossa má conduta. O Passo Quatro permite-nos descobrir-nos a nós próprio e ficar livres da “escravidão do ego” descrito na Oração do Terceiro Passo.
Passo Cinco: Admitimos perante Deus, perante nós próprios e perante outro ser humano a natureza exacta dos nossos erros.
No Passo Cinco, partilhamos o nosso inventário do quarto passo com a pessoa de nossa escolha (normalmente o nosso padrinho) e continuamos a descobrir “a natureza exacta dos nossos erros”. Ao fazer este passo, somos capazes de identificar áreas onde permitimos o nosso egoísmo, os nossos instintos, e os nossos medos de nos controlar. Partilhar o nosso inventário permite que outro ser humano nos ajude a examinar problemas que éramos incapazes de perceber por nós próprios. Depois de completar o Passo Cinco, é sugerido que vamos para casa e revemos os primeiros cinco passos do programa e o nosso inventário para ver se precisamos de juntar mais ressentimentos, medos, ou pessoas que causamos danos, Perguntamos a nós mesmos se retemos alguma coisa no nosso inventário. Iluminámos “cada aspecto tortuoso de carácter, todos os recantos obscuros do nosso passado?” Se sim, estamos prontos para o Passo Seis.
Passo Seis: Dispusemo-nos inteiramente a aceitar que Deus nos libertasse de todos esses defeitos de carácter.
Ao rever as nossas “imperfeições”, perguntamos a nós mesmos se achamos esses defeitos de carácter indesejáveis e se acreditamos que Deus pode remove-los todos. Se sentimos que existem defeitos que não estamos dispostos a largar, o Big Book sugere que rezemos para que tenhamos a disposição de que eles sejam removidos.
Passo Sete: Pedimos-Lhe humildemente para nos livrar das nossas imperfeições.
Quando completamos o Passo Seis, dizemos a Oração do Sétimo Passo para que nos sejam removidos os defeitos de carácter por Deus na forma como O compreendemos.
Passo Oito: Fizemos uma lista de todas as pessoas a quem tínhamos causado danos e dispusemo-nos a fazer reparações a todas elas.
No Passo Oito, fazemos uma lista de todas as pessoas que causamos danos, e rezamos pela boa vontade de fazer reparações a todas elas. Muitas das reparações que precisamos de fazer estão divulgadas no inventário de ressentimentos e o nosso inventário sexual. Também incluímos qualquer pessoa que tenhamos causado dano que não está na lista do nosso inventário do quarto Passo.
Passo Nove: Fizemos reparações directas a tais pessoas sempre que possível, excepto quando fazê-lo implicasse prejudicá-las ou a outras.
No Passo Nove, fazemos reparações às pessoas que causamos danos. O Big Book dá-nos exemplos de como ir fazer estas reparações. O concelho de um padrinho, assim como de outros que tiveram a experiencia de aplicar este passo, é também uma ajuda em nos mostrar como reparar danos causados no passado. É através do Passo Nove que nos libertamos da culpa, medo, vergonha, e remorso resultantes de danos que causámos a outros. Fazer este passo ajuda a “nos moldarmos de forma a sermos capazes de servir o melhor possível a Deus e aos outros que nos rodeiam”.
Passo Dez: Continuámos a fazer o inventário pessoal e quando estávamos errados admitimo-lo imediatamente.
Tendo feito os primeiros oito passos e feito um começo no Passo Nove, encontramo-nos no Passo Dez, Onze, e Doze. Apesar dos Doze Passos estarem projectados para serem feitos por uma ordem, é sugerido fazer os Passos Dez, Onze e Doze numa base diária, enquanto fazemos as reparações do nono passo.
Os últimos três passos englobam muito dos primeiros nove passos na sua estrutura e aplicação. O Passo Dez envolve a continuar a fazer o inventário pessoal e corrigir novos erros á medida em que prosseguimos. O Big Book ensina-nos que quando as nossas imperfeições “surgem”, lidamos com elas ao usar o Passo Dez. O propósito principal do Passo Dez é de nos prevenir de ficar bloqueados outra vez de Deus, cujo poder, no fim de contas, nos mantém sóbrios .
Passo Onze: Procurámos através da oração e da meditação melhorar o nosso contacto consciente com Deus, como O concebíamos, pedindo apenas o conhecimento da Sua vontade em relação a nós e a força para a realizar.
Existem muitas definições de oração e meditação, e uma discussão detalhada não é prática nos limites deste panfleto. Algumas sugestões básicas sublinham uma rotina diária e nocturna que podemos aplicar para permitir que Deus monitorize e direccione o nosso pensamento.
Passo Doze: Tendo tido um despertar espiritual como resultado destes passos, procurámos levar esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em todos os aspectos da nossa vida.
Tendo sido tomados os primeiros onze passos, estamos agora no Passo Doze e estamos prontos para levar a mensagem a outros adictos (página 75 a 86). Sempre que trabalhamos com outro adicto somos lembrados do quão mal estávamos quando chegamos pela primeira vez ao programa. No recém-chegado, reconhecemos as mesmas mãos a tremer, peso a menos, e o olhar de desespero e puro terror que tínhamos. Ouvimos o desgoverno em termos de depressão, miséria, e infelicidade, seja ele expresso deliberadamente ou debilmente escondido. Somos relembrados dos nossos problemas do passado nas relações pessoais, quando vemos recém-chegados a lidar com os seus. Finalmente a nossa fé na habilidade de Deus em nos restaurar a sanidade é reforçada, quando vemos Deus transformar a vida de um recém-chegado, mesmo diante dos nossos olhos.
Em adição a levar a mensagem a outros adictos, o Passo Doze envolve praticar esses princípios em todas as áreas das nossas vidas. Se os adictos que recaem têm a sorte suficiente de voltar ao programa e analisar o que aconteceu, podem descobrir que pararam de praticar os princípios em todos os seus assuntos – que já não estavam a examinar os seus motivos, a rever os seus dias, rezar ou levar a mensagem.