C.A. também é para os Adictos Homossexuais, Lésbicas, Bissexuais, ou Transexuais
“A primeira vez que partilhei a minha história numa reunião de Cocaína Anónimos, esperava olhares de aversão e medo, mas em vez disso recebi abraços calorosos e valorização. É uma grande mudança para alguém que cresceu sendo provocado e rejeitado. As pessoas na Irmandade valorizam a minha experiencia individual, e muitos deles agradeceram-me por ter sido honesto sobre quem eu sou.”
Muitos de nós viveram num mundo de preconceito, intolerância e ódio apenas porque éramos homossexuais, lésbicas, bissexuais ou transexuais – diferentes da maioria da sociedade. Alguns de nós começaram a usar cocaína ou outras drogas pelo simples desejo de nos sentirmos aceites num mundo que parecia não ter lugar para nós. Talvez simplesmente tenha-mos dado por nós varridos no rápido e decadente mundo dos clubes nocturnos e circuito de festas que descobrimos enquanto explorávamos a nossa orientação sexual. Outros procuraram escapar do severo julgamento e rejeição que sentiam das famílias e amigos sempre que nos embebedávamos ou nos pedrávamos. Para muitos de nós, a única maneira de lidar com os nossos sentimentos de ser diferente era usar drogas e álcool.
Muitas vezes éramos afastados ou rejeitados pelas nossas famílias. Algumas vezes éramos postos de lado ou julgados pela religião, dizendo-nos que Deus nos odiava e que o nosso estilo de vida nos levaria para o Inferno. Talvez até tenhamos sentido que Deus até nos odiava; que Ele nos tinha abandonado. Acreditávamos que ninguém se poderia possivelmente relacionar com as nossas lutas ou estilo de vida. Perguntámos a nós próprios, “Pode Deus me ajudar, mesmo sendo eu diferente de todas as outras pessoas? Como posso eu possivelmente ficar sóbrio?” Não era suficiente saber que tínhamos uma doença que nos fazia dependentes de químicos alteradores da mente que tornavam as nossas vidas ingovernáveis; acreditávamos que a nossa interacção social – todo o nosso estilo de vida – estava a ser julgado pelo resto do mundo. Pior, muitas vezes sentimos aversão e julgamento com nós mesmos.
Então descobrimos Cocaína Anónimos e aprendemos que o único requerimento para se ser membro é o desejo de parar de usar cocaína e todas as substâncias alteradoras da mente. Isto era tranquilizador, mas mesmo assim muitos de nós sentiram-se separados do resto do grupo. Preocupava-nos que a nossa orientação sexual fosse uma barreira tão grande que nos iria impedir de verdadeiramente relacionar com os nossos amigos em Cocaína Anónimos. Então ouvimos outros membros a partilhar as suas experiências. Á medida que os ouvíamos relacionámos nos com as semelhanças; demos conta que não éramos os únicos que tinham medo de ser “diferentes”. Ouvimos esperança, fé e coragem e começamos a acreditar que talvez nós, também, poderíamos recuperar.
Quando fomos a Cocaína Anónimos pela primeira vez, foi nos oferecida ajuda. Aqueles que se ofereceram para nos ajudar não queriam saber se éramos homens, mulheres, ricos, pobres, que drogas usávamos, que religião tínhamos, qual a cor da nossa pele. O facto de alguns de nós serem homossexuais, lésbicas, bissexuais ou transexuais não era um obstáculo; aqueles que nos levaram a mensagem de recuperação estavam mais focados na nossa necessidade de sobriedade do que a nossa orientação sexual. Os seus amores incondicionais e aceitação tornou-nos mais confortáveis e bem recebidos.
“Quando vim para C.A. pela primeira vez estava dentro do armário, mas sabia que não poderia manter segredo de toda a gente. Então escolhi uma pessoa das salas que poderia confiar. Ainda me levou um par de semanas para me abrir, mas quando o fiz, senti que um peso gigante tinha sido retirado dos meus ombros. O meu padrinho não me julga ou afasta de todo. De facto, o meu padrinho tornou-se num dos meus melhores amigos e grande conselheiro.”
Para muitos de nós, admitir uma adição é similar a assumir-se como LGBT: pode ser assustador abrir nos sobre alguma coisa que escondemos ou negamos por tanto tempo. Assim como assumir-se, ser honesto sobre uma adição melhora as nossas vidas e abre possibilidades que não sabíamos que existiam. Fazendo parte da comunidade LGBT, podemos sentir muitas vezes que somos muito diferentes dos outros. O que descobrimos em C.A. é que muitas pessoas, de todos os passeios da vida, partilham esses sentimentos de ser diferente, não pertencerem e que esses sentimentos têm importância na nossa adição. Ao vermos as semelhanças com os outros, mesmo aqueles que as experiencias, estilos de vida ou escolhas são diferentes das nossas, encontramos um lugar onde a nossa orientação e/ou género sexual começam a fazer parte de quem somos, e não de tudo aquilo que somos… e não tudo aquilo que podemos ser. Podemos ver que as nossas lutas com questões sexuais não são tão diferentes das outras pessoas.
Trabalhámos os Doze Passos e descobrimos as várias alegrias da sobriedade. Descobrimos a oferta de nos sentirmos confortáveis na nossa própria pele e da coragem de sermos nós mesmos. Descobrimos que não fazia diferença se estávamos dentro ou fora do armário. Tudo o que era necessário era aparecer com o desejo de estar limpo e sóbrio. Podemos nos juntar na harmoniosa acção com outros adictos para estar na solução.
Partilhamos o sentimento de pertencer que descobrimos em Cocaína Anónimos, por isso é importante – imperativo – que continuemos este ciclo. Sabemos quão importante é de sentir que “fazemos parte de”. A nossa Quinta Tradição diz-nos que o nosso propósito primordial é de levar a mensagem de recuperação ao adicto que ainda sofre e é para isto que nos esforçamos. Ninguém se deve sentir esquecido ou julgado em Cocaína Anónimos. Entendemos a dor e medo causado pela doença da adição; simpatizamos com recém-chegados relutantes e confusos porque nós “estivemos lá”. Já nos sentimos “de parte” e entendemos. Podemos honestamente dizer, “Sabemos que tu és, e sabemos que Cocaína Anónimos é o lugar para ti, porque é o lugar para nós”.